Aqueles que tem olhos para ver que vejam
Estamos ficando acostumados a sermos bombardeados por informação vinda de todos os lados: é o celular que toca, a mensagem nova no whatsapp, o novo post no facebook, a televisão ligada ao fundo, e assim por diante.
Na grande maioria das vezes essas informações são triviais, banais e com relativo pequeno impacto em nossas vidas. As mensagens de whatsapp por exemplo costumam ser, em sua grande maioria, piadinhas enviadas em grupos, fotos sobre as atividades sociais, e memes engraçados feitos por quem não tem muito o que fazer.
Outras vezes são mensagem agendando encontros, baladas e outras informações bate-e-volta. Não há nada nessas mensagens digitadas freneticamente que substitua um bom: " - Oi como está você !?" naquele aplicativo que usamos cada vez menos em nosso smartphone, o TELEFONE!
Todas essas ferramentas de rede social são muito úteis, mas temos que concordar que as informações de que mais precisamos, e que tem mais valor para nossas vidas, são aquelas mais profundas e extensas, adquiridas em palestras, livros, artigos e textos mais elaborados, mas esses meios de transmissão de informação têm ocupado cada vez menos espaço em nossas vidas, em favor da avalanche das mensagens "rápidas" e "instantâneas".
Atualmente existem psicólogos referindo-se a uma verdadeira pandemia de "vício em smartphone", cujos indícios se encontram em toda parte hoje em dia. É só observar atentamente em shoppings, faculdades, escolas, e mesmo em bares e restaurantes. Normalmente são pessoas mais jovens, teclando freneticamente seus aparelhos eletrônicos, inconscientes das pessoas "em carne e osso" à sua volta, mais preocupadas em mandar selfies no facebook, ou em mandar para as amigas no whatsapp as últimas piadinhas que receberam do grupo da escola.
Fonte: http://psychcentral.com/blog/archives/2015/07/14/is-there-a-pandemic-of-smartphone-addiction/
Pode ser que eu venha a ser considerado um chato, e alguém retrógrado, ou mesmo anacrônico, descompassado com os novos tempos digitais, mas a minha conclusão é a que a humanidade está perdendo boa parte de sua capacidade de análise e processamento das informações que vão além da superficialidade. Basta observar a diferença de qualidade de nossas produções artísticas e culturais: passamos de intérpretes geniais tais como Elis Regina e Tom Jobim, em músicas magistrais como "Águas de Março", com sua profundidade musical, poética e melódica desse verdadeiro clássico da música popular brasileira, para artistas do calibre de um Michel Teló e seu "Ai se eu te pego"...ai, ai, se eu te pego...nada contra que ele queira "pegar" quem ele quiser "pegar", mas essa comparação ilustra bem a diferença de profundidade a que me refiro.
Acredito que jamais deixará de ser nossa a responsabilidade de buscarmos o equilíbrio em nossas vidas, também no que diz respeito entre, por um lado, a aproveitar as comodidades advindas dos meios de comunicação digital, mais rápidas e instantâneas, e por outro lado absorver as informações mais substanciais e profundas, como aquelas adquiridas em leituras tais como livros, artigos de jornais, revistas, etc., mesmo que sejam lidos em meios digitais, como esse que estás a ler.
Bom mesmo é pegar um livro, sentar com calma em um lugar confortável, e lê-lo com gosto, se esforçando para visualizar as imagens e cenários criados pelo romancista, ou para entender verdadeiramente os conceitos transmitidos pelo filósofo ou pesquisador.
Se for para ouvir música, pode ser que gostes de Michel Teló, de sertanejo, de música eletrônica e outras bandas pop, mas não se esqueça de enriquecer seu reportório com uma boa MPB - Música Popular Brasileira, um bom Rock n' Roll clássico, jazz, ou mesmo uma boa música instrumental, porque dessas últimas, infelizmente não se fazem mais com a mesma qualidade, pelo "andar da carruagem", como dizia minha avó.
O que tenho dito pode parecer nostalgia de uma época no passado em que as coisas eram melhores, mais profundas e assim por diante, mas em um artigo chamado "Superficiality reigns as U.S. media, public go brain-dead over Kosovo" (Superficialidade reina enquanto a mídia e o público dos EUA passam por morte cerebral sobre o Kosovo) escrito em 1999 por Stephanie Solter, no qual a escritora americana já alertava para a superficialidade na mídia americana, para temas de importância humana e política como o ataque das forças da OTAN a Kosovo. A reportagem menciona que as pessoas entrevistadas ou não sabiam onde Kosovo ficava (na antiga Iuguslávia, aliás), nem tinham idéia sobre o que se tratava o bombardeamento, pois o evento não foi muito relatado na mídia de massa, mais preocupada em mostrar as vidas das celebridades.
Isso nos leva a pensar se esse processo de "superficialização" das nossas mentes seria algo planejado por aqueles que controlam os meios de comunicação de massa, que são em sua grande maioria as fontes de nossas informações, ou será que esse processo é apenas uma consequência da evolução natural advinda do uso das novas tecnologias digitais? Pode ser um pouco de ambos, na realidade.
Se você chegou até aqui no texto, talvez signifique que você ainda tenha salvação e que seu cérebro ainda não esteja totalmente danificado, portanto cuide bem dele para que isso não aconteça!
Para evitar a "superficialização" sugiro que leia, estude, analise, toque música, ame bastante, escreva, ou seja, exercite seu cérebro para que não acabe perdendo tudo aquilo que faz de você verdadeiramente um ser humano, e não um robô, ou seja, a sua criatividade, seu bom humor, a empatia com outras pessoas e com outros seres vivos!!
Abraços queridos amigos,
Roberto Camargo Leite Moreira